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SOBRE O CONTATO IMPROVISAÇÃO

Uma forma de dança contemporânea nascida justamente no bojo de um processo intenso de experimentação em que se busca olhar o cotidiano e o corpo para além de seu aspecto instrumental ou formal, questionando e desestabilizando fronteiras entre arte e vida. 
 

Contato Improvisação foi nomeado em junho de 1972 por Steve Paxton. Momento histórico em que jovens da sociedade americana questionavam radicalmente o autoritarismo e as guerras, quando o bailarino e coreógrafo americano Paxton despontou na cena para aplicar um projeto de residência para alunos da Oberlin College, em Ohio, nos Estados Unidos, de onde surgiu uma performance chamada “Magnesium”, trabalhando com os três alicerces do Contato Improvisação: Quedas e Rolamentos do Aikido, as Colisões de vários níveis e intensidades e a Small Dance (Pequena Dança). 
 

Os movimentos pesquisados no C.I. lidam com a inércia, o momentum, o desequilíbrio e o inesperado, podendo ir de um alto nível aeróbico a uma quietude física. Dentre os conteúdos estudados estão o domínio e compreensão do peso, pressão e tração, fricção, o toque e a condução, além de quedas e suspensões. É também, um diálogo físico-emocional de uma pessoa com ela mesma, com o chão, com o(s) outro(s) numa construção de vocabulário que envolve os princípios físicos citados acima, além de muitos outros. A técnica foi difundida no Brasil de uma maneira mais contínua pela Isabel Tica Lemos¹, precursora do Contato Improvisação brasileiro. Foi uma das fundadoras, diretora, professora e intérprete do Projeto e Estúdio Nova Dança, escola de dança, teatro, casa das Cia Nova Dança 4 e centro cultural multifacetado com princípios da educação somática e berço do Contato Improvisação que funcionou por 12 anos (1995 – 2007), no bairro do Bixiga em São Paulo. Ali o C.I. encontrou um terreno fértil para prosperar e se disseminar para todo o país. 

 

Steve Paxton, um bailarino com experiência em ginástica olímpica e Aikido² que vinha de uma trajetória de trabalho na dança moderna e experimental com Merce Cunningham, Robert Ellis Dunn, Trisha Brown e com as cooperativas de performances Judson Church Dance Theatre³ e Grand Union⁴. Tal processo levou seus criadores a desenvolver uma dança centrada no encontro e na comunicação com o outro, por meio do toque e do tato.

Talvez por conta de sua crítica aos padrões que regiam as convenções cênicas da época (anos 70) e a mudança no estatuto da relação entre arte e vida, o desenvolvimento do Contato Improvisação se deu para além do contexto cênico e conquistou profissionais das mais diversas linguagens ao redor do mundo, a partir das Jams⁵, Festivais, Oficinas, Imersões, Performances, etc.

O Núcleo Improvisação em Contato investiga o C.I. levando em conta um dos seus princípios, a aceitação do outro (que é você) e de si (que é o outro) na exploração de uma dança única no presente. Inclui a integração da energia (KI), buscando um alto nível de percepção da mente corporificada. A prática do Aikido, arte marcial, como característica de pesquisa do Núcleo junto com ferramentas da improvisação cênica.

NOTAS:

1.  Isabel Rocha de Cunto Lemos nasceu em 13/12/1964, no Rio de Janeiro, Brasil. Graduou-se em 1987 pela SNDO (School for New Dance Development), em Amsterdã, na Holanda. Foi uma das introdutoras e quem deu continuidade a prática do Contato Improvisação no Brasil, trazendo para o país pela primeira vez seu fundador, Steve Paxton. É uma das fundadoras, diretora, professora e intérprete do Estúdio e Projeto Nova Dança e da Cia Nova Dança 4. Premiada com o Prêmio Governador do Estado de São Paulo e com o APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte). Responsável pela cadeira de improvisação, da Faculdade de Dança da Universidade Anhembi/Morumbi, de 2000 a 2004. Professora 4º dan de Aikido, sob a orientação do sensei Keizen Ono, 7º dan, São Paulo. Intensa colaboração com diversos artistas e núcleos criativos como Georgette Fadel, Lucilene Favoreto, Cibele Forjaz, Cia São Jorge de Variedades, Grupo Bartolomeu de Depoimentos, Cia Les Comediens, Maquinaria, entre outros. Inúmeros espetáculos realizados como diretora, assistente de direção, produtora, pensadora e preparadora corporal e intérprete em mais de 28 anos de trabalhos. Inicia sua vida e trabalhos artísticos em Brasília, onde cresce e vive até os 20 anos de idade, com Ary Pararraios, Hugo Rodas e Fernando Villar em 1976, 1980 e 1983, respectivamente. Criadora e diretora do grupo e do trabalho “Juanita”, baseado em dança & literatura.

2.  Aikido é uma arte marcial japonesa desenvolvida pelo mestre Morihei Ueshiba (1883-1969), aproximadamente entre os anos de 1930 e 1960, como um compêndio dos seus estudos marciais, filosofia e crenças religiosas. O aikido é, freqüentemente, traduzido como "o caminho da unificação (com) da energia da vida" ou "o caminho do espírito harmonioso". O objetivo de Ueshiba era criar uma arte em que os seus praticantes pudessem defender-se a si próprios a partir do ataque adversário. O cerne desta arte marcial órbita em torno do uso pragmático da energia num combate, no controle desse fluxo. Os praticantes desta arte respeitosamente chamam seu criador de O-Sensei ("Grande Mestre") ou "fundador".

3.  Judson Church Dance Theatre foi uma cooperativa de performances no movimento de vanguarda da dança moderna experimental que existiu entre 1961 e 1964 em Nova Iorque, e foi a mais representativa na manifestação e anunciação de mudanças sociais (Novack, 1990, p. 42)

4.  Grand Union (Grande União) era uma cooperativa de livre improvisação em dança, teatro e música que existiu entre 70 e 76 (Novack, 1990, p. 53)

5.  JAM: abreviatura de Jazz After Midnight, usada por músicos para designar encontros ou sessões de improvisação e adotada aqui pelos contatistas para seus encontros livres de Contato Improvisação.

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Foto: Fábio Minagawa

JAMS

O que são as JAMS para o Núcleo Improvisação em Contato:

São ambientes para a experimentação de diferentes possibilidades de dança, de escuta atenta, de exercício das técnicas, de observação e cuidado, de ousadia e diversão; JAM é um conjunto que acontece a partir das contribuições singulares de cada participante e das múltiplas interações possíveis. É um espaço de prática e experimentação do movimento e dança de improvisação, livre para cada um participar e contribuir, assistindo, dançando, explorando,pesquisando, tocando, desenhando, contemplando, vivendo junto.

No contexto do Contato Improvisação, as JAMS surgiram alguns anos depois das primeiras performances, inspiradas nas improvisações dos músicos de Jazz (a palavra Jam vem da sigla Jazz After Midnight), constituindo então um espaço distinto da aula, do espetáculo, do baile ou do treinamento técnico, mas reunindo características desses diferentes dispositivos em um espaço-tempo aberto. Uma definição possível para a JAM seria: “Ambientes de prática, nos quais os dançarinos praticam a forma de dança com quem quer que venha – amigos ou estranhos, velhos, jovens, experientes, iniciantes.” ¹

Nas divulgações de JAMS que o Núcleo Improvisação em Contato tem organizado desde 2011, uma das maneiras que temos usado para caracterizar as JAMS seria: “um ambiente para a experimentação de diferentes possibilidades de dança, de escuta atenta, de exercício das técnicas, de observação e cuidado, de ousadia e diversão, aberto a todos os interessados, independentemente da experiência prévia; JAM é um conjunto de ações que acontecem a partir das contribuições singulares de cada participante e das múltiplas interações possíveis”.

TEXTO: Pedro Peñuela

NOTAS:

1.  Nancy Stark Smith e David Koteen: What is a Contact Jam.

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